Além do mais, é meio estranho conversar com você assim de longe. Estou tão acostumada a ter você por perto. Sei que, quase todo dia, a vida nos impõe espaços e o cotidiano cria grandes lacunas que nos distanciam. Tem hora que esse enorme vão entre nós esvazia minhas tardes ou faz as manhãs se arrastarem sem fim. À noite, contudo, meu mundo se enche por inteiro. É quando volto para casa, cansada do trabalho, da cidade, da rotina, abro a porta da frente e enxergo você na mesa da sala.
Você merece virar prosa e até poesia em meio aos meus esboços.
Queria que você soubesse de cada boa lembrança que guardo da gente. Se nosso romance virasse filme, eu já teria na cabeça a seleção dos melhores momentos e uma coletânea completa para a trilha sonora. Só que não sou boa em conduzir o enredo. Sei que me atrapalho toda e, quando a gente vê, já compliquei a história. Até que vem você, com suas frases de efeito e seu talento nato para aparecer de repente, trazendo soluções, no momento mais crítico. Você desenrola a trama, enquanto eu dito o clímax, e, juntos, a gente resolve qualquer conflito. O desfecho é a sua companhia, em um cenário simples, com poucos figurantes, e um encadeado de memórias doces.
Mas, para lá das narrativas, somos realidade. Embora eu saiba que você merece virar prosa e até poesia em meio aos meus esboços. Para ser franca, eu deveria te escrever um livro ou mesmo uma coleção, que é para agradecer tudo de bom que você me inspira. Desconfio que você sequer imagina – ou, ao menos, vive errando os cálculos – as alegrias que provoca em mim. Sabe que tenho vontade de te pegar pela mão e dar uma volta completa ao redor do globo com você ao lado? Podemos correr vida afora e ver as belezas e feiuras e banalidades que vão por aí.
Tudo bem, eu entendo, agora não vai dar. Eu não tenho pressa. O que acha de começarmos indo ali na praça caminhar abraçados ou andar de mãos entrelaçadas na beira do lago? Ao contrário do que você pensa, não tenho precisado de muito. Só preciso que seja com você.
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